segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Quarta Capa - Ossos de Princesas - Evandro Affonso Ferreira


Beatriz Grimaldi sabe que caminhamos tempo todo sobre essa linha divisória entre Fausto e Mefistófeles; que somos anjos desabençoados; que a felicidade é muitas vezes tão inacessível quanto o folclore druídico; que a vida quase sempre se torna uma encruzilhada – lugar onde se cruzam desespero e medo e impotência. Beatriz é escritora que sabe que na vida entre nós, desvalidos, não há espaço para a ataraxia epicurista: a paz de espírito é infactível, está fora dos limites da possibilidade; que na maioria das vezes não é possível jogar a carga ao mar para não se afogar. Estamos diante de uma autora substanciosa. Nesses Ossos de Princesas não há espaço para tagarelice cheia de ventos. Beatriz Grimaldi é daquele tipo de autor que podemos chamar de niilista honorável: sabe – à semelhança de Cioran – que a vida se cria no delírio e se desfaz no tédio. Sabe que deus – existindo ou não – está afastado dos homens. Modo geral, seus personagens não carregam nenhuma amargura vingativa – mas há dentro das mãos uma delicadeza indigesta. Finalmente, sabe que nem todos os nossos esforços são infrutíferos: escrever um bom livro, por exemplo, vale a pena.

Evandro Affonso Ferreira

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